A Medicina Aeroespacial, especialidade muito difundida em todo o mundo, realiza há mais que 70 anos Congressos anuais para troca de experiências e atualizações em que se discutem os agentes agressores do organismo humano representados pelo ato de voar, mesmo em aeronaves modernas.
No Brasil, pouca gente, mesmo profissionais da área médica, lembra-se dos princípios e Leis da Física que regem os gases quando se fala em viagens aéreas e muitos ignoram que a pressurização das aeronaves é parcial, isto é, que o ambiente da cabine de um avião não é o mesmo encontrado na superfície terrestre.
Esta diferença de meio ambiente e seus principais componentes tais como: menor quantidade de oxigênio, menor quantidade de vapor de água, maior quantidade de ruídos e vibrações, maior exposição a radiações, transposição de fusos horários, disbarismo, alterações de horários, e a possibilidade de contraírem-se doenças loco – regionais constituem as principais preocupações da Medicina Aeroespacial.
Concomitantemente, ministram-se conhecimentos aos tripulantes para que sofram em grau menor as conseqüências de desenvolver suas atividades em meio diverso daquele para o qual foram criados.
Por esta razão, a Medicina Aeroespacial é uma ciência multidisciplinar, interagindo com todas as especialidades médicas e ainda com Matemática, Física e Química e fornecendo subsídios à Engenharia Aeronáutica.
Há mais que 50 anos Charles Yeager rompeu a barreira do som usando uma roupa parcialmente pressurizada, criada pela Medicina Aeroespacial.
Da mesma maneira, com a equipe médica chefiada por Dr. Charles Berry, o homem conquistou o espaço e desceu na Lua em 1969.
Durante os anos 80, Ross Mc Farland tornou-se o “guru dos fatores humanos” definindo os parâmetros a ser considerados na construção e operação dos sistemas de transporte aeronáutico.
Dr. Huberthus Strughold, foi um dos pioneiros a aventar a possibilidade da conquista do espaço pelo homem e a cogitar da qualidade de apoio médico para concretização dessa possibilidade. Ele mostrou que a 16 Km de altura com pressão atmosférica em torno de 87 mm/Hg só é possível sobreviver respirando-se Oxigênio a 100% e que a 20 Km de altura com pressão atmosférica em torno de 47 mm/Hg os fluídos orgânicos fervem e se volatilizam e o indivíduo seria dissecado e que, a 30 Km os problemas com as radiações ultravioletas tornam-se sérios. Strughold foi denominado o “pai da Medicina Aeroespacial”
O homem esperou milênios pensando na possibilidade de voar; há cerca de 200 anos alçou-se aos céus em balão; há 1 século um objeto mais pesado que o ar voou e há pouco mais de 50 anos, conquistamos o espaço.
Estas conquistas e suas conseqüências são um desafio para a Medicina Aeroespacial e dela depende a possibilidade dos conquistadores usufruírem suas conquistas.
Atualmente, a Medicina Aeroespacial, preocupada com a saúde, o bem estar e a Segurança dos passageiros que, cada vez com maior freqüência, utilizam os aviões como meio de transporte, volta-se para a Medicina do Viajante, (*) Emporiatria, procurando chamar a atenção dos médicos das diferentes especialidades para as peculiaridades que assumem as diferentes doenças do organismo humano quando em outro meio físico, para que eles saibam orientar seus pacientes quando por ocasião de viagens aéreas.
(*) Em Tokyo durante o 40th I.C.A.S.M. criou-se o termo “Emporiatria” para designar a área da Medicina Aeroespacial que se dedica a usuários de aeronaves para suas viagens; termo esse composto pelos vocábulos grego “Emporio” que tem suas origens nas viagens dos fenicius e o sufixo “Atria”, que significa medicina.
O futuro da Medicina Aeroespacial é fascinante, excitante e inquietante e, quanto mais nos dedicamos a ele, mais adquirimos condições para apoiar e assistir aeronautas, astronautas e passageiros.
Na Aviação Comercial o tamanho, capacidade e desempenho dos aviões levarão a maior automação e surgirá a necessidade, pelo aumento do trafego aéreo, de redesenharem-se aeroportos, informatizar-se a comunicação e proteger-se melhor a saúde de aeronautas, aeroviários, pessoal de apoio ao controle do trafego aéreo e aos passageiros. Na Aviação Militar, o desempenho das aeronaves irá exigir tripulações cada vez mais bem dotadas e melhor assistidas, pois as exigências a que serão submetidos os pilotos serão cada vez maiores.
Na astronáutica, os vôos de maior duração com incursões interplanetárias levam-nos a antever a criação e manutenção de estações intermediárias destinadas a reabastecimento e revisões das astronaves e, subseqüente, colonização de planetas e seus satélites. Parece algo distante hoje, mas em futuras gerações…
Na prática, as viagens sub-orbitais já são realidades, inclusive para turismo. A Medicina Aeroespacial já atua para esses fins.